ALBERTO CAEIRO (FERNANDO PESSOA) - POESIA COMPLETA

sábado, 2 de dezembro de 2017

QUANDO TORNAR A VIR A PRIMAVERA - ALBERTO CAEIRO

POESIA COMPLETA DE ALBERTO CAEIRO NO YOUTUBE

https://www.youtube.com/watch?v=HGqaeRinnHQ&list=PLgB-acgBipL-C5mG7ziZmszWMy6dUDBhi

à(s) dezembro 02, 2017

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Etiquetas: QUANDO TORNAR A VIR A PRIMAVERA

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A CRIANÇA QUE PENSA EM FADAS
A ESPANTOSA REALIDADE DAS COISAS
A GUERRA QUE AFLIGE COM OS SEUS ESQUADRÕES O MUNDO
A MANHÃ RAIA
A NOITE DESCE
A SALADA
ACHO TÃO NATURAL QUE NÃO SE PENSE
ACORDO DE NOITE SUBITAMENTE
AGORA QUE SINTO AMOR
AH QUEREM UMA LUZ MELHOR DO QUE A DO SOL
ANTES O VOO DA AVE QUE PASSA E NÃO DEIXA RASTO
AO ENTARDECER
AQUELA SENHORA TEM UM PIANO
AS BOLAS DE SABÃO QUE ESTA CRIANÇA
AS QUATRO CANÇÕES QUE SEGUEM
ÀS VEZES EM DIAS DE LUZ PERFEITA E EXACTA
BENDITO SEJA O MESMO SOL DE OUTRAS TERRAS
COMO QUEM NUM DIA DE VERÃO ABRE A PORTA DE CASA
COMO UM GRANDE BORRÃO DE FOGO SUJO
CREIO QUE IREI MORRER
CRIANÇA DESCONHECIDA E SUJA
DA MAIS ALTA JANELA DA MINHA CASA
DA MINHA ALDEIA VEJO QUANTO DA TERRA SE PODE VER DO UNIVERSO
DE LONGE VEJO PASSAR NO RIO UM NAVIO
DESTE MODO OU DAQUELE MODO
DIZEM QUE EM CADA COISA UMA COISA OCULTA MORA
DIZES-ME TU ÉS MAIS ALGUMA COISA
DUAS HORAS E MEIA DA MADRUGADA
E HÁ POETAS QUE SÃO ARTISTAS
É NOITE
ENTRE O QUE VEJO DE UM CAMPO E O QUE VEJO DE OUTRO CAMPO
ESTÁ ALTA NO CÉU A LUA E É PRIMAVERA
ESTA TARDE A TROVOADA CAIU
EU NUNCA GUARDEI REBANHOS
FALAS DE CIVILIZAÇÃO
GOSTO DO CÉU PORQUE NÃO CREIO QUE ELE SEJA INFINITO
GOZO OS CAMPOS SEM REPARAR PARA ELES
HÁ METAFÍSICA BASTANTE EM NÃO PENSAR EM NADA
HOJE DE MANHÃ SAÍ MUITO CEDO
LAST POEM
LERAM-ME HOJE SÃO FRANCISCO DE ASSIS
LEVE LEVE MUITO LEVE
LI HOJE QUASE DUAS PÁGINAS
METO-ME PARA DENTRO E FECHO A JANELA
NÃO BASTA ABRIR A JANELA
NÃO ME IMPORTO COM AS RIMAS
NÃO TENHO PRESSA
NEM SEMPRE SOU IGUAL NO QUE DIGO E ESCREVO
NO DIA BRANCAMENTE NUBLADO ENTRISTEÇO QUASE A MEDO
NO ENTARDECER DOS DIAS DE VERÃO
NUM DIA EXCESSIVAMENTE NÍTIDO
NUM MEIO DIA DE FIM DE PRIMAVERA
O AMOR É UMA COMPANHIA
O CONTO ANTIGO DA GATA BORRALHEIRA
O LUAR ATRAVÉS DOS ALTOS RAMOS
O LUAR QUANDO BATE NA RELVA
O MEU OLHAR AZUL COMO O CÉU
O MEU OLHAR É NÍTIDO COMO UM GIRASSOL
O MISTÉRIO DAS COISAS ONDE ESTÁ ELE
O PASTOR AMOROSO PERDEU O CAJADO
O QUE NÓS VEMOS DAS COISAS SÃO AS COISAS
O QUE OUVIU OS MEUS VERSOS
O QUE VALE A MINHA VIDA
O QUÊ VALHO MAIS DO QUE UMA FLOR
O TEJO É MAIS BELO QUE O RIO QUE CORRE PELA MINHA ALDEIA
O UNIVERSO NÃO É UMA IDEIA MINHA
OLÁ GUARDADOR DE REBANHOS
ONTEM À TARDE UM HOMEM DAS CIDADES
ONTEM O PREGADOR DE VERDADES DELE
OS PASTORES DE VIRGÍLIO
PARA ALÉM DA CURVA DA ESTRADA
PASSA UMA BORBOLETA POR DIANTE DE MIM
PASSAR A LIMPO A MATÉRIA
PASSEI TODA A NOITE
PASSOU A DILIGÊNCIA PELA ESTRADA
PASTOR DO MONTE
PENSAR EM DEUS É DESOBEDECER A DEUS
PEQUENOS POEMAS DE POEMAS INCONJUNTOS
POBRES DAS FLORES NOS CANTEIROS
PRIMEIRO PRENÚNCIO DA TROVOADA DE DEPOIS DE AMANHÃ
QUANDO ESTÁ FRIO NO TEMPO DO FRIO
QUANDO EU NÃO TE TINHA
QUANDO TORNAR A VIR A PRIMAVERA
QUANDO VIER A PRIMAVERA
QUEM ME DERA QUE A MINHA VIDA FOSSE UM CARRO DE BOIS
QUEM ME DERA QUE EU FOSSE O PÓ DA ESTRADA
SE ÀS VEZES DIGO QUE AS FLORES SORRIEM
SE DEPOIS DE EU MORRER QUISEREM ESCREVER A MINHA BIOGRAFIA
SE EU MORRER NOVO
SE EU PUDESSE TRINCAR A TERRA TODA
SE QUISEREM QUE EU TENHA UM MISTICISMO
SEJA O QUE FOR QUE ESTEJA NO CENTRO DO MUNDO
SEMPRE QUE PENSO UMA COISA TRAIO-A
SIM EXISTO DENTRO DO MEU CORPO
SÓ A NATUREZA É DIVINA E ELA NÃO É DIVINA
SOU UM GUARDADOR DE REBANHOS
TALVEZ QUEM VÊ BEM NÃO SIRVA PARA SENTIR
TAMBÉM SEI FAZER CONJECTURAS
TODAS AS OPINIÕES QUE HÁ SOBRE A NATUREZA
TODAS AS TEORIAS TODOS OS POEMAS
TODOS OS DIAS AGORA ACORDO COM ALEGRIA E PENA
TU MÍSTICO VÊS UMA SIGNIFICAÇÃO EM TODAS AS COISAS
UM RENQUE DE ÁRVORES LÁ LONGE
VERDADE MENTIRA CERTEZA INCERTEZA
VIVE DIZES NO PRESENTE

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